terça-feira, janeiro 24, 2006

Pensamento "Presidencial"

Mais um Presidente para a nossa República, eleito por uma maioria relativa da população Portuguesa. Tendo em conta a abstenção, que representa um terço da população eleitora, é nos revelado um desinteresse expresso na acção de muitos portugueses. A legitimidade de tal acto é inquestionável, pois a individualidade confere a liberdade de expressão a cada um de nós. O que é questionável, é a justificação para tal acto. O sentimento de impotência não desresponsabiliza o indivíduo das suas acções, pois talvez o seu comportamento seja já esperado e condicionado por uma sociedade que fomenta esse propósito. A desresponsabilização a que somos todos convidados não é ingénua, mas sim patrocinada pela esfera política, que se interessa apenas pelo acesso ao poder. Ao reduzirem a nossa intervenção à dimensão de vida individual, fazem com que cortemos a ligação ao todo. Deixamos de perceber a Globalidade das nossas vidas, ao mesmo tempo que perdemos o controle sobre os nossos destinos. Acabamos, ao fim e ao cabo, por depositar em outras pessoas que julgamos mais capazes que nós, o presente e futuro. E apesar de todas as desilusões que se nos deparam no dia a dia, onde as promessas de igualdade social são esquecidas, onde a corrupção impera, sujeitamo-nos ao mesmo processo repetidamente.
Eu cá digo que alternativas procuram-se. Porque cansado estou de promessas enganosas das pessoas de sempre. Custa-me entender como a maior parte de nós, após ter sido enganada vezes sem conta, insiste em acreditar em quem lhe mente. Na nossa vida individual não o fazemos. Muitas das vezes cortamos relações com quem nos engana, mas aqui não assumimos os nossos sentimentos, em vez disso, cedemos à pressão social que nos é imposta e que cala os nossos protestos. Vivemos amordaçados pelo ritmo que impomos às nossas vidas, esquecendo-nos de algo muito importante, a felicidade.
Desejo que este Presidente seja iluminado pela nossa vontade de mudar e que assim atente aos nossos anseios de equidade. Prefiro não me resumir a uma existência telecomandada e, por assim ser permito-me pensar a vida como um todo do qual faço parte.
Estas eleições podem ter muitas leituras, e eu faço uma muito particular. A maior votação alcançada por Manuel Alegre em relação a Mário Soares, não é a derrota deste último, mas sim do sistema que o patrocinou, e não me refiro apenas ao PS, na verdade, o sistema político foi o grande derrotado. Alegre foi a cara dessa alternativa, como no futuro podem ser outros, penso que abriu-se um precedente em política e que a meu ver poderá trazer uma nova luz à nossa governação. O corte assumido por este candidato em relação ao sistema, angariou muitos votos, o que poderá reflectir uma vontade de mudança da população em relação aos líderes. Os partidos podem deixar de existir sobre a forma de empresas que geram políticos profissionais e regressar à sua génese, abraçando o objectivo máximo para o qual foram criados. A representação de diferentes correntes de pensamento assumidas por diferentes facções da população.
O diálogo terá de ser sempre a ponte entre as diferenças. A crítica meramente destrutiva e descredibilizadora deve ser abandonada, para dar lugar à construção e implementação de ideais comuns. A interacção proactiva entre as diferentes correntes produzirá a mudança necessária à Humanidade. Muitos homens de "Poder", julgam-se iluminados, mas muitas vezes estão apenas iludidos pelas armadilhas que o Ego lhes prega. Também eles reduzem o seu "Mundo", ao aceitarem jogar segundo as regras de um determinado jogo. O dinheiro e o "Poder" cegam-nos, tornando homens com valor em marionetes sem vontade própria. Infelizmente a sociedade está dependente de uma complicada rede de interesses, que na sua maioria se encontram ligados aos pilares da Economia sobre a qual se sustenta. Esta dependência gera desigualdades criadas pela utilização de critérios duvidosos no que diz respeito ao estabelecimento de prioridades de Governação. Presos a este sistema, os políticos de hoje, não podem resolver os nossos problemas. Antes pelo contrário, os vícios existentes alastram aos seus seguidores, tornando o futuro previsivel. A mudança está em cada um de nós.

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